Como estagiárias, percebemos que
as crianças brincavam de forma violenta: “dar gravata” (enforcar), “dar
carrinho” (usar os pés e as pernas para fazer o colega tropeçar), chutar, dar
socos, puxar, falar palavrão e brigar constantemente durante jogos de futebol
nos períodos entre as aulas.
Este comportamento nos chamou
muito a atenção e começamos a conversar com as crianças. Perguntávamos:
— O que vocês estão fazendo?
A resposta era sempre a mesma:
— Estamos brincando.
Não satisfeitas com esta
resposta, comentávamos:
— Mas isso não é brincadeira.
Pode machucar.
Mas as crianças insistiam:
— É sim, olha só, ninguém se machuca, a gente está rindo, é brincadeira.
A gente brinca assim mesmo.
Obviamente, os casos de crianças machucadas são comuns na Escola. Muitas
acabam levando socos e pontapés fortes, ficam com marcas vermelhas e roxas no
corpo, caem no chão de dor. Não é incomum ver crianças chorando por causa deste
tipo de brincadeira.
Decidimos, então, intervir neste contexto. Começamos a perguntar para as
crianças sobre outras brincadeiras mas elas raramente conseguiam relatar algo
além de “Pique” ou “Esconde-Esconde”.
Passamos, a levar alguns brinquedos e a propor brincadeiras em
três momentos: durante o período de entrada das crianças (13:00 às 13:40h), durante
o Recreio (13:40 às 14:10 h) e no período após a aula (18:10 às 19:00 h).
Os primeiros brinquedos que levamos foram “elástico”, “peteca”. As
primeiras brincadeiras que fizemos foram “Corre Cutia”, “Cama de Gato” e
“Amarelinha”. Depois, completamos as brincadeiras com bolinhas de gude, corda, bilboquê, peteca (emprestada da Profa. Kátia, de Tai Chi Chuan) e Cinco Marias.
Peteca
Cinco Marias
Cutia
Marcador para Amarelinha
Uma auxiliar montou uma caixa chamada "Brinquedos da Serra".
Percebemos que as brincadeiras violentas foram diminuindo e que houve uma maior aproximação entre as crianças e as auxiliares. Da mesma forma, as crianças começaram a brincar mais entre si, inclusive promovendo maior interação entre crianças com necessidades educacionais especiais.
Crianças jogando bolinha de gude
Infelizmente, durante o primeiro mês vários brinquedos foram perdidos: a peteca caiu em cima da cobertura da quadra; uma das bolinhas do bilboquê não foi encontrada. O mesmo aconteceu com o elástico e em duas semanas perdemos mais de 40 bolinhas de gude.
Em reunião com o Núcleo de Psicologia e com a Supervisão Pedagógica, decidimos repor os brinquedos e aproveitar a iniciativa da turma F1B para mobilizar a comunidade escolar para cuidar maios dos brinquedos, assim como ministrar uma oficina para fazer bilboquê de garrafa PET e receber doações de brinquedos.