terça-feira, 17 de junho de 2014

Brincadeiras Livres (1)

Durante o estágio vi vários brinquedos expostos nas salas, ao alcance das crianças. Algumas vezes as brincadeiras são livres e o ambiente é preparado para tanto. Outras vezes tem a intervenção das professoras e, em outros momentos, a participação das professoras. Essas três configurações exemplificam as várias formas de mediação.

Na Ed. Infantil, as crianças de 4 e 5 anos brincam livremente na areia diariamente no início da aula. As crianças de 2 e 3 anos brincam diariamente na areia, quando chegam na escola e depois do lanche. No tanque de areia ficam, constantemente, disponíveis baldes, pás, caixas e outros brinquedos de plástico. No espaço ao redor do tanque de areia as crianças brincam também de casinha, de correr, com brinquedos (boneca, carrinho, etc.).

Na 1ª Etapa do 1º Ciclo do Ensino Fundamental as crianças brincam livremente na areia uma vez por semana (às sextas, no Dia do Brinquedo). Nas brincadeiras livres em sala de aula, as crianças tem à sua disposição peças de quebra-cabeça, Lego, carrinhos, objetos de uso cotidiano que foram pintados de cor prata (teclado de computador, fone de ouvido, mouse, telefone sem fio, etc.).

Realmente, quando há a participação direta de um adulto na brincadeira, as crianças sentem-se mais motivadas. Pude perceber isso um dia quando propus brincar de “Forca” com as crianças. E adverti “mas tem que pensar direitinho para que a palavra seja escrita corretamente”. Pronto, estava colocado um desafio. Eu fui a primeira a escrever a palavra. Era “escola”. As crianças foram jogando de forma correta, respeitando as regras do jogo, que já conheciam. Em pouco tempo adivinharam a palavra. Depois, começaram a brincar sozinhas. Uma delas escreveu uma palavra e as demais brincaram, pulando a minha vez. Quando falavam uma letra que já tinha sido dita, eu falava “Olha lá, na lista das letras que já foram faladas. Qual ainda não foi dita que poderia ser colocada na palavra?”. O desafio fazia com que as crianças tentassem combinar vogais e consoantes, formar sons ou agrupamentos já conhecidos. Finalmente, descobriram a palavra.

O jogo simbólico também foi observado no tanque de areia com as crianças da Ed. Infantil. No caso, as crianças simulavam a preparação de uma refeição, colocando a mesa, arrumando os assentos. Isso mostra a internalização de uma prática cultural que se dá no momento da brincadeira e que ilustram a contribuição do jogo simbólico para o desenvolvimento social e cognitivo das crianças (BOMTEMPO, 1999, p. 2).

 Entrevistando a professora da Ed. Infantil, que trabalha com crianças de 2 anos, percebi uma ênfase no brincar livremente, o que é levado bem a sério na escola. Durante este momento, as crianças são observadas e as intervenções são feitas. Todo aprendizado é percebido pela equipe pedagógica porque há o devido acompanhamento. Além disso, como foi dito por Brougère (NAVARRO & PRODOCIMO, 2012, p. 637), mesmo dentro de um planejamento pedagógico, não é possível ter total precisão de aprendizado na atividade. Isso também foi relatado pela professora ao preparar uma atividade comentando comigo que poderia sair do jeito que ela tinha pensado ou não. Que era também possível que as crianças nem se interessassem. Ou seja, por mais que haja uma intenção pedagógica, a brincadeira tem sempre o elemento liberdade e um fim em si mesma. Não se pode obrigar uma criança a brincar desse ou daquele jeito ou a aprender um conteúdo brincando.


REFERÊNCIAS
BOMTEMPO, Edda. Brinquedo e educação: na escola e no lar. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) [online]. 1999, vol.3, n.1, pp. 61-69. ISSN 1413-8557. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v3n1/v3n1a07.pdf>. Acesso em 06 Mar. 2014.

NAVARRO, Mariana Stoeterau; PRODOCIMO, Elaine. Brincar e mediação na escola. Rev. Bras. Ciênc. Esporte [online]. 2012, vol.34, n.3, pp. 633-648. ISSN 0101-3289. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbce/v34n3/v34n3a08.pdf>. Acesso em 05 Mar. 2014.